sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Para que Servem as Religiões.

Li um livro excelente intitulado “Papel Moeda” de Adam Smith, não o grande economista, pai do liberalismo, mas um jornalista econômico estadunidense. Editora Record (1981).
O autor trata de forma brilhante e até profética, da economia estadunidense toda baseada na especulação imobiliária, concordando com outros analistas que previam um dia a “bolha” estouraria e que, quando acontecesse, o sistema financeiro entraria em colapso de tal forma que “só haveria um banco”. A profecia de certa forma se cumpriu, a “bolha” especulativa estourou, os bancos de investimento quebraram e levaram consigo grandes bancos comerciais que, nos países ricos, foram sendo “comprados” pelos governos.
Mas o livro tem um enfoque mais abrangente que isso, e vai tratar da dependência energética dos Estados Unidos com relação ao Oriente Médio, como surgiu a OPEP e seu poder de sugar dólares americanos fato que levou os EUA a venderem armas para os governos daquela região do planeta a fim de recuperarem um pouco dessa imensa transferência de riqueza para os Xeques, Reis, Emires, Aiatolás. Claro que não foi o suficiente, além de criar grandes problemas na região, tais como grupos extremistas contrários aos interesses do Ocidente, agora fortemente armados e treinados, consequências estas que acompanhamos diariamente nos jornais atuais.
A transferência de riqueza foi e é imensa e evidentemente causou e causa mudanças no espaço geográfico dos países do Oriente Médio.
No capítulo nove, “A Conexão Saudita: o reino e o poder”, o autor traça um perfil do “Reino”, ou seja, a Arábia Saudita, onde descreve um país atrasado em termos capitalistas, uma sociedade tribal, sem telefone, ruas sem nome, casas sem número, um país sem parlamento, sem imprensa, sem consumismo. Sem consumismo?!!!!!!!!!!! Isso mesmo, sem o consumismo ocidental. Mas os ‘petrodólares’ entraram maciçamente, afinal O Reino possui um terço das reservas da OPEP. Riad, a capital, foi transformada, virou cidade global. “Fora da cidade original”, nos conta o texto, “tem estradas de seis pistas com iluminação a arco voltaico. Arquitetos texanos deram aos prédios públicos um estilo que é uma mistura do moderno com o arábico clássico”. O que não mudou foram as relações de poder: “O Reino é dirigido pelo Rei, a família real, o Alcorão, e um idioma inteiro de pressupostos culturais.”.
Eis onde quero chegar. O islamismo na Arábia Saudita é rígido e seus preceitos são preservados por uma polícia religiosa que patrulha os locais públicos, imprensa e canais de televisão são restritos, as notícias controladas. Ao povo comum resta a obediência e, embora haja uma certa revolta contra as notícias de corrupção no alto escalão de governo, todo o status quo é mantido. Lá a religião legitima os privilégios do rei exatamente como no ocidente antes da revolução burguesa, quando a ‘ética protestante’ passou a levar o povo a querer esses privilégios para si, enriquecendo assim os capitalistas que lhe vendem sonhos.
A fé foi apropriada aos interesses do poder terreno em todos os casos, serviu para manter o povo submisso e manso em favor de uma minoria que se apossou das riquezas: no passado ocidental, a nobreza e o próprio clero, no presente, pós-revolução burguesa, os burgueses e o clero protestante ou não a eles ligado. O Oriente Médio, porém, ainda vive um mix de nobreza e clero que detém quase todos os privilégios utilizando o jugo poderoso da religião. Em função disso Marx e Engels disseram: “a religião é o ópio do povo” e Nietzsche que o cristianismo é um disfarce para os fracassados. Não por acaso os governantes sauditas têm verdadeira ojeriza ao comunismo.
Não estou aqui fazendo apologia ao comunismo, nem mesmo condenando o cristianismo ou o islamismo, mas apenas observo como a religião foi usada para beneficiar as ‘elites’ não só no tempo, mas também no espaço.
Fico pensando se tudo poderia ser diferente. Se cada um de nós lutasse por viver com apenas o necessário, isso retiraria do rei, lá onde ele ainda existe, seus privilégios, pois forçaria uma distribuição mais justa da riqueza - o ideal socialista que até hoje só ficou na teoria, visto que quem sobe ao poder se distancia do operariado, começa a ‘mamar nas tetas do poder’ e a história se repete...- ao mesmo tempo não permitiria a acumulação capitalista, preservaria o meio ambiente, livraria a humanidade da fome e da miséria. Para que tudo isso se realizasse seria indubitavelmente necessária muita disciplina, demandaria um verdadeiro reaprendizado e muito, mais muito boa-vontade. Se as religiões aqui citadas se prestassem a essa revolução, isso lhes devolveria seu caráter libertador e as reaproximaria de Deus.

Um comentário:

  1. Isso fortifica mais uma vez minha opinião, de que o que estraga o homem é a religião e não a Fé.

    Ingrid Adami

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